Opinião: RALF PINTO UM ESTRANGEIRO A QUEM PORTUGAL E O ALGARVE MUITO DEVEM
24 de Julho de 2014
Há uns 25 anos atrás estava eu no meu gabinete, no Ministério da Cultura, em Faro, quando recebi a visita de Ralf Pinto. Ralf Pinto era uma judeu sefardita, sul-africano, cujos antepassados tinham fugido de Portugal quando da perseguição pela Inquisição. Tinha estado a visitar o antigo cemitério judaico que, apesar de classificado, estava numa ruína. Veio pedir ajuda para restaurar o antigo cemitério judaico que se encontrava completamente arruinado. Não queria dinheiro, só a cooperação das autoridades portuguesas (por favor não atrapalhem). Chegámos logo a um acordo de cavalheiros. Não atrapalhávamos e ajudávamos com as burocracias e o Ralf tratava do resto. Entrou em contacto com outro sefardita de ascendência portuguesa, Isaac “Ike” Bitton que tinha sido conselheiro de Ronald Reagan. Arranjaram as verbas e vieram dezenas de sefarditas, de todo o mundo, reparar o cemitério. O conselheiro de estado dos USA, Isaac Bitton, lá andava, com os outros, a arrancar ervas, a lavar e a caiar paredes. Tinham o hábito estranho de me chamar por Dr. Mendes e todos me perguntavam qual era a minha afinidade familiar com o Aristides de Sousa Mendes. A resposta era sempre igual “sorry, any. We are not from the same family”. Depois foi a “re-inauguração”, com pompa e circunstância e com a presença de Mário Soares (na altura PR), do Bispo do Algarve, vários rabis, uma série de embaixadores, tudo o que era político local, etc., etc. etc. Eis uma foto do Ralf Pinto junto à sepultura do Rabi Yusef Toledano.
Anos mais tarde o Ralf Pinto faleceu e foi sepultado a poucos metros do lugar da foto. O último judeu a ser enterrado no espantoso cemitério judaico de Faro e a prova provada que um homem determinado consegue muita coisa.
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