Hangares: TERRA PORTUGUESA COM HISTÓRIA E GENTE
Na minha terra, núcleo dos Hangares – na minha Culatra, do meu Culatrense, orgulhosamente Portugueses de Faro, mais um vez dou comigo a questionar que mal fez a Culatra, sobretudo o núcleo dos Hangares (nome oriundo do facto de ter sido um território português alugado (cedido) aos franceses para aqui amararem, na I Guerra Mundial, os seus hidroaviões para defenderem o sul de Portugal e, consequentemente. da Península Ibérica, de uma possível invasão alemã), para as suas gentes serem menorizadas, ao ponto de verem os barcos das carreiras passarem a 5 metros do cais (onde atracavam os galeões a vapor para meterem água e carvão) e não pararem para fazerem os transportes públicos, o cabo de energia eléctrica e os canos de água potável e esgotos passarem-lhe debaixo dos pés sem que sejam ligados às cerca de 200 habitações do histórico núcleo, onde os diversos monumentos estão a enferrujar, apodrecer e cair por falta de manutenção.
Claro que não fizemos mal a ninguém, pelo contrário, gerações de famílias, como a minha, foram obrigadas a trabalhar, viver e servir nos núcleos dos Hangares, Culatra, Farol e Deserta o Estado (Novo) Português, em defesa da “cousa” Pública. Caso contrário, se os meus avós se recusassem a tal isolamento (seu e dos seus), sabem (ainda alguns) o que lhes aconteceria …e às familias… Mesmo assim tudo têm feito para, através da falta de condições mínimas de vida, cansarem as pessoas (velhos e especialmente os mais novos) e desertificarem de gente os núcleos habitacionais – mas não conseguiram nem conseguem! Como qualquer farense e português do Continente, vamos continuar a defender as nossas raízes! Portugal é composto pelo Continente e mais ilhas do que só Açores e Madeira!
Acicatado pela informação que (finalmente) a vereação da Câmara de Faro vai votar o pedido de concessão da Ilha ao Estado (núcleos habitacionais da Culatra, Hangares e Farol), tal como já aconteceu com à Armona em relação a Olhão, sou “assaltado” por centenas de recordações. Recordo quando há cerca de 52 anos, estava eu (menino e moço) presente, o encarregado de colocar os pilares de cimento, com arames farpados, do perímetro militar da Marinha em redor de toda a Ilha de Santa Maria (Culatra), torneando os três núcleos habitacionais, chegou junto do meu avô Manuel “lobisomen” e avisou que “em breve as casas dos Hangares iriam todas abaixo”. Sapiente ou “vidente”, como quiserem considerar, o meu avô respondeu-lhe de forma a não dar hipótese de resposta: “Ainda eu, você e os meu netos morrerão e as casas não vão abaixo!”. Premonição taxativa!
Já então o meu avô, que nem a 4ª classe tinha – mas não lhe faltavam louvores de bons serviços públicos prestados -até de vários salvamentos a náufragos, funcionário nas ilhas da então Hidráulica do Guadiana (que lhe autorizou a construção da casa de família nos hangares em 1932, organismo que depois se chamou Junta de Portos de Sotavento do Algarve (JAPSA) e ainda… IPTM-Instituto Portos e Transportes Marítimos) se questionava como era possível dizerem que a zona mais larga do cordão dunar da Ria Formosa (cerca de 4 km) estava em perigo…. Só por interesses (…) turístico imobiliários que já então se falavam à boca pequena. E ainda nem se sonhava com a criação dos tristemente famigerados Parque Natural da Ria Formosa e muito menos da Polis-Ria Formosa.
Oriundos de gerações de pescadores-mariscadores e funcionários do Estado, moços sem preocupações com as coisas dos adultos, eu e os meus primos; Fernando, António e João, ou as nossas amigas de brincadeiras Isabel, Luciana ou Rosa (filhas do tio Zé “semido – por ter os dedos das mãos dobrados – diz-se – por ter chegado gelado do mar e logo de seguida colocado as mãos sobre o fogareiro a carvão “, dedicáva-mo-nos a experiências inólvidáveis, como subir ao moinho com o avô “labsome” e destravar a patilha das pás do moinho que rodava ao sabor do vento e bombeava água do poço dos Hangares (ainda hoje a melhor de todas) para o depósito gigante (ainda existentes), água que seguia por mangueira para um muro (ainda existente) na praia mar (maré cheia), que depois era bombeada para uma barca de água de madeira (que eu ajudava a conduzir com uma enorme cana de leme), comandada pelo mestre Candeias, rebocada através de grandes e grossos cabos de ráfia pelo rebocador “Boneco” – comandado pelo mestre Carlinhos – para o Farol, onde era bombeada para um depósito que existia no cais do marégrafo (controlador da força e altura das marés no Cabo de Stª Maria – com um tambor tipo sismógrafo), a-fim-de ser distribuída para as casas do director, fiscalização e responsáveis da JAPSA lá existentes. Tantas recordações ainda por contar!
Agora, finalmente com a intervenção dos políticos que os farenses elegeram, acredito ainda mais que a Sociedade Polis – Ria Formosa, que hoje tem o “poder” de decidir entre a “vida e a morte” – decretando a demolição de casas de gerações, obrigadas pelo então Estado Novo a construírem casas e fazerem e criarem família, fazendo vida nas ilhas, sem quaisquer condições, como os núcleo dos Hangares, Culatra, Farol, Deserta e Faro, onde até foram construídos os então postos da Guarda Fiscal, com cabo e guardas, tal era a importância dada pelo “Estado Novo” a esses núcleos habitacionais, tal como acontece na Armona, deixará de gerir estes núcleos habitacionais, passando a Câmara de Faro a exercer o poder autárquico na plenitude, com todos os direitos e deveres. Até porque, bem geridas e aproveitadas, turística e socialmente, estas ilhas podem ser a “galinha dos ovos de ouro” para tirar Faro da eterna crise financeira, tornando o Concelho Capital do Algarve num dos mais ricos da região.
Tanto mais que está tecnicamente provado que a Culatra-Hangares se encontra na zona mais larga e sem risco da Ria Formosa. Estamos cá para ver e depois contar, porque como dizia a canção há 40 anos, “Vemos, Ouvimos e Lemos – Não Podemos Ignorar”. Manuel Luís
Dia 28 de Abril assembleia municipal de faro